sábado, 7 de julho de 2012

sabado

Ele está apavorado enquanto bebe o café tranquilo e quente na manhã gelada. Sente socar o peito, levemente deformado, de dentro pra fora, como um grito esmurrando uma porta que o abriria para o silencio do desabafo interno. Olha a cada letra para o numero seis esperando compenetradamente pelo sete enquanto distrai-se na exacerbação meticulosa da cronica/conto/nada. Tenta buscar em pensamento uma imagem, um pedido de socorro, mas nada busca encontrando o que não procurava e aquilo que não o preenche no vazio daquela sensação de salvação ordinária e asquerosa. Preferia o som rude das palavras ao silencio sarcástico. Enquanto o café desaparece na xícara e a bateria aproxima do fim o discursar solitário, perde-se na visão da rua e seus transeuntes úmidos e escarrados. Uma nuvem de bafo quente e viral acumula-se a cada janela, cada vidro, cada lado de dentro transformando a paisagem em uma pequena London Street Capilé. Asco. O inverno é cheio de individualidades coletivas. O inverno é repleto de solidão. Ele está apavorado. E pede mais uma xícara de café. Não há condições de dormir por que não há mais condições de sonhar.

domingo, 29 de abril de 2012

Criatividade

A criatividade deveria ser algo relacionada diretamente a Darwin. Na competição pelo longínquo, sobrevive aquele que desponta como o mais forte e que desenvolve organismos para a proliferação da espécie. Uma musica que passa como sucesso por uma temporada e tende a ser lembrada com o franzir da testa na próxima, não deve ser chamada de criativa. Assim como uma peça de teatro, uma roupa, um souvenir. A pretensão da criatividade deve ser adquirida por quem não busca o resultado óbvio de sua cria. A criatividade deve ser algo lançado ao esmo, ao ar, ao vento para que esta possa desenvolver-se em liberdade e aninhar-se nos conceitos daqueles que a sabem receber sem rótulos, sem expectativas. Como uma paixão que se desenvolve a partir de uma novidade e que não espera ser nada além do que paixão. Como um olhar deflagrado sem maiores angustias, como um sorriso desprendido pelo espontâneo. Por que respostas para o abstrato, são devaneios sobre o lúdico. Criatividade é peça de colecionador. Esperar um telefonema, um telegrama, um post é atitude demasiadamente supérflua. O telefonema, o telegrama, o post só fazem sentido se chegam sem esperar. Eis a grande sacada das coisas que não se explicam. Não serem previsíveis. A música ou o teatro que nascem do momento histórico contemporâneo são tão evidentes quanto um aperto de mãos num jantar formal. Mesmo que as mãos estejam sob as mesas. É preciso desgrenhar-se do inevitável para que este possa ser crédulo, verdadeiro. É preciso respirar por vez a cada narina, sentir a cada toque, perceber o imperceptível a cada oportunidade e desmentir-se a cada resenha. O grande mal da sociedade contemporânea é que nos habituamos ao óbvio e fazemos dele uma necessidade. As agencias de jornalismo e publicidade são as grandes precursoras neste âmbito. Se o grande "barato" são as telenovelas e seus dramas, eis uma reportagem ou um anuncio com tais. E que criativos!, exclama a glamourosa classe C da inteligencia recente. Criativo é aquilo que nos atinge como um soco no estomago e que sorrimos como se recebêssemos um beijo suave, um cafuné. A busca da arte criativa passa pelo aval de ser eternamente a busca pelo utópico, pelo horizonte, pelo equilibrar momentâneo da necessidade de continuidade pacifica. E que isto fique sublimemente claro. Mesmo este texto é fadado ao ostracismo sem criatividade, pois retrata um autor nulo e vazio. O autor contemporâneo de 2012. Que Darwin o relacione como espécie fadada a extinção.

domingo, 8 de abril de 2012

Despreocupadamente

Uma janela aberta mostra apenas o que o passado decorou. Não, não é mais um texto melancólico sobre saudades e outros desesperos. É simplesmente a constatação despreocupada de que aquilo que reconheço quando olho pela janela, é o resultado de toda construção de conhecimento a que o passado me pôs a prova. Somente, alias, sei que a janela é janela, por que outrora fomos apresentados um ao outro formalmente. Eis uma janela! O mesmo acontece com o pombo que repousa confortavelmente no parapeito do edifício comercial a frente. Ou na sacada do prédio residencial ao fundo onde uma Wicca sai sorrateiramente para mortalizar seu vício de nicotina. Eis um cigarro! Então há sempre passado a frente. Para ser futuro é preciso que haja desconhecimento, portanto, não há futuro. Não posso reconhecer aquilo que não conheço. Eis o futuro... Onde? Na janela? Passado! No pombo? Passado! Mais cigarro(sim,passado). Minha própria descrição de futuro trata-se de passado. Agora, por exemplo, posso escolher destrinchar este texto para uma Martha Medeiros, retratando o futuro como desejo, horizonte, o que valoriza sua busca confiante a cada dia. Ou para Mauro Menine, reconhecendo no futuro uma utopia e na utopia um motivo para o desespero das mentes pensantes vagando sem rumo no universo das decepções mundanas. Não sei. Afinal, o que me motiva mesmo é o passado, esta janela, o pombo, o cigarro. O futuro vai ficando para cada letra que surge, pois, previstas no meu passado, atiram-se na tela como novidade, para espanto dos meus olhos melancólicos...

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Da primeira noite que jantamos com os amigos dela...

De dentro de mim
Já fora do carro
entre as paredes da casa,
vi o carro distanciar-se
e, por um instante,
cheguei a sentir que ela
não se afastava.
Permanecia em mim...

domingo, 18 de dezembro de 2011

Doce Ardor

Minha poesia é minha história.
Nela, em versos soltos de mim,
descrevo meu momento impar,
singular,
sem esperar ponto
ou outra virgula.

Como numa receita de sabor pessoal
onde descrevo,
com o tempero da minha paixão,
meu prato predileto:
a vida.
Minha vida!

Vai que os anos me esqueçam
(porque eu esqueço dos anos),
ainda restará nos meu livros
esta culinária
cozinhada dia a dia
na rotina dos meus dias.

E hoje, meu bem,
Nas minhas antologias,
te descrevo delicadamente,
com uma pitada de cereja e outra de pimenta,
para dar um doce ardor à minha poesia.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Vazio - Tal Qual em São Leo...

Um mar, que imagino ainda esteja
Dum outro lado desta parede branca.
Tal qual em São Leo.

Um vento sul, escuro e mudo
Soprando entre as janelas surdas.
Tal qual em São Leo.

Um céu sem brilho de clara íris de seda,
Cobrindo meus olhos caídos.
Tal qual em São Leo.

Uma sala, vazia, com poemas soltos
Acariciando os pés de minh’alma.
Tal qual em São Leo.

Um, por que sempre só, esquecido
Num espaço sombrio, sozinho.
Tal qual em São Leo.

Está tudo como é de sempre, praxe.
Só não está, João, o som do teu violão.
Tal qual em São Leo.

sábado, 19 de novembro de 2011

...

Em um corredor de paredes brancas
deixei rabiscos a carvão descrevendo
breves instantes da nossa poesia.
Minhas mãos nas tuas.
Pablo Neruda.
Uma folha de outono desprendida
indo suavemente de encontro
á morte.
Num canto de página,
num pé de folha,
uma outra versão sobre
os versos incompletos.
Tuas mãos sem minhas mãos.
Ponto.
Um inacabado fim.
O fim...
FIM