segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

MOSTRA DO CINEMA FRANCÊS CONTEMPORÂNEO

Local: Sala de Cinema do Centro Cultural José Pedro Boéssio (Rua Osvaldo Aranha, 934)
Horário: 19h
Entrada Franca
Apoio: Secretaria Municipal de Cultura de São Leopoldo
Realização: SESC RS

Programação:

01/03 (TER)
A Esquiva
L'esquive (2003). De Abdellatif Kechiche - Comédia dramática - Duração 117’ . Em um conjunto habitacional no subúrbio parisiense, um anjo passa declamando apaixonadamente versos da peça "Le jeu de l'amour et du hasard". É Lydia, embalada por Marivaux e às voltas com os ensaios do espetáculo a ser montado por sua turma de sala de aula para as festividades da escola. Já Abdelkrim, apelidado de "Krimo", no auge de seus 15 anos, é arriado pela sua colega de sala. Ele que se arrasta levando seu tédio pelas quebradas suburbanas em companhia de sua galera, descobre repentinamente o amor. Mas Krimo não é do gênero expansivo além de ter que manter a fachada.Então como se declarar à garota sem perder a pose? Uma solução se impõe: corromper seu amigo Rachid, parceiro de cena com Lydia, para obter o papel de Arlequim. O que Krimo não ousa dizer, Marivaux o fará em seu lugar! Mas a astuciosa manobra torna-se verdadeira odisséia para Krimo, apavorado com a amplitude do texto e as exigências implacáveis de sua professora de francês. Kim encontrará as palavras a serem ditas antes que o boato, as ciumeiras e as inimizades não se metam em seu caminho?

03/03 (QUI)
Até já
A tout de suite (2004). De Benoit Jacquot - Drama - Duração 95’ . Ao desligar o telefone depois de um "até já" do namorado, ela sabe muito bem sem saber ainda aquilo que ela nem imaginava: aquele que ela ama, aquele "príncipe" de parte alguma é um bandido. Ele acaba de cometer um assalto, há mortos. Estamos nos anos 70, ela tem 19 anos e, como num sonho acordado, salta do espaço restrito do apartamento paterno - de longos corredores, num belo bairro - e mergulha de cabeça numa geografia fugitiva - da Espanha para o Marrocos e para a Grécia - passando de uma vida de garota normal para a vida que ela escolheu, com suas delícias e conseqüências.

15/03 (TER)
Assassinas
Meurtrières (2005). De Patrice Grandperret – Drama – 97’ . O encontro de duas jovens normais e um pouco frágeis. Entre elas, uma identicacação imediata. Juntas, elas são fortes, eufóricas. Sem muita sorte, nem muito dinheiro, elas têm apenas seus sonhos. Duas jovens em busca do amor. Cada instante que passa, cada encontro lhes fecha um pouco mais as portas de um mundo que elas não têm as chaves. Com nada no bolso, não se vai longe, ou diretamente muito longe.

17/03 (QUI)
De volta à Normandia
Retour en Normandie (2006). De Nicolas Philibert. Documentário - Duração 113’ . Em 1975, Nicolas Philibert foi assistente de direção de René Allio em Eu, Pierre Rivière, que degolei minha mãe, minha irmã e meu irmão, baseado num crime local descrito em livro pelo filósofo Michel Foucault. Filmado na Normandia, a alguns quilômetros de onde aconteceu o triplo assassinato, o traço mais especial do trabalho de Allio era o fato de que todos os personagens do filme foram interpretados por camponeses da região. Trinta anos depois, Philibert retorna à Normandia para reencontrar estes atores de ocasião, personagens da vida real.

22/03 (TER)
O Último dos Loucos
Le dernier des fous (2006). De Laurent Achard - Drama - Duração 96’ . É verão e começo das férias. Martin tem onze anos, vive na fazenda de seus pais e observa, desamparado, a desunião de sua família: sua mãe vive enfurnada em seu quarto, seu irmão mais velho, que ele adora, se afoga no álcool, e seu pai é dominado pela avó. O menino assiste a um desastre familiar. Mas Mistigri, seu gato, e Malika, uma amiga marroquina procuram lhe reconfortar de alguma forma.

29/03 (TER)
Povoado number one
Bled Number One (2006). De Rabah Ameur Zaïmeche – Drama - Duração 100’ . Mal saiu da prisão, Kamel é expulso da França para seu país de origem, a Argélia. Este exílio forçado o leva a observar com lucidez um país em plena transformação dividido entre o desejo de modernidade e o peso das tradições ancestrais.

31/03 (QUI)
A França
La France (2007). De Serze Bozon - Drama - Duração 102’. No outono de 1917, a guerra prossegue. A milhas de distância do campo de batalha, a jovem Camille leva uma vida marcada pelas notícias que seu marido manda do front. Um dia ela recebe uma carta em que ele termina com o casamento. Desnorteada e determinada a continuar a qualquer custo, Camille decide se disfarçar de homem para encontrá-lo. Ela segue direto ao front de guerra, cortando caminho pelos campos para evitar as autoridades. Numa floresta, passa por um pequeno grupo de soldados que não suspeita de sua identidade. Ela os segue e assim embarca numa nova vida e, conforme os dias e as noites passam, descobre o que nunca poderia imaginar, o que seu marido nunca lhe contou e o que seus novos companheiros irão evitar lhe mostrar: a verdadeira França.

05/04 (TER)
Tudo Perdoado
Tout est pardonné (2007). De Mia Hansen-Løve – Drama - Duração 95’. Victor vive em Viena com Annette, sua esposa e sua filha Pamela. É primavera. Fugindo do trabalho, Victor passa os dias fora, brinca com a filha e vadia no Parque. Apaixonada, Annette está confiante que ele se ajeitará. Mas Victor não abandona os maus hábitos e acaba se apaixonando por uma jovem junkie. Onze anos depois, Pamela descobre que o pai vive na mesma cidade e decide vê-lo novamente.


A curadoria dos filmes foi feita pela tradicional revista Les Cahiers Du Cinéma, promotora histórica da reflexão sobre a arte do cinema.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Dês-rotina

Quando o despertador toca, quem sou eu? Quem é aquele que acorda e enxerga o mundo de novo pela primeira vez? Que mundo ele enxerga? Quem é que ele enxerga quando se fita no espelho do banheiro? De quem é aquela primeira merda do dia, aquele primeiro mijo, aquela primeira remela que se desprende torneira a baixo?
Os sonhos se acumulam na membrana externa do meu interior. Sonhos que durmo, sonhos que acordo, sonhos que vivo. Um sonho. Nada algodão, nada Barbie. Um desconexo com a realidade. Não há nada palpável por aqui. Tudo é abstrato. Tudo é lúdico. Uma palavra e nada acontece. Meia palavra e meia. A sensação de vazio, de preenchimento do nada, de perfuração intestinal/neurotransmissor de meus sensores auditivos e principalmente corrosivos. O som da rua. A rua do meu sonho, dos meus dias da minha morte. Escárnio putrefato do meu ser angustiado sem sexo, nexo, convexo, disléxo, amnésia. Meu espelho, meu rastro. Futuro? Meu passado. Meu presente arrastado. Todo dia, dia a dia, rotina. Dês-rotina...

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Afinal...

O antebraço esta caído sobre o braço do sofá empunhando fumaça e brasa. Coloca fogo no ar que respira para prestar atenção no que tenta esquecer: não parece nada fácil encontrar uma nova pessoa no espelho.

A água morna escorre delicadamente sobre seu corpo afogando-lhe o rosto num mergulho vertical ascendente. Mesmo o filete de água fria que jorra do defeito do chuveiro lhe agrada. Prazer. Esta é a primeira e única palavra que lhe define o momento e que paira sobre seu pensamento. Amanda precisava daquele instante. Como é que se conhece, de fato, alguém?A mão escorre o corpo tocando delicadamente cada centímetro de carne, perpassando os dedos no breve instante de pele nua que há entre um pelo e outro. Os olhos fechados criam mundos coloridos e ardentes: nuvens dispersas num céu azul, grama verde, poesia, a umidade do orvalho escorrendo entre as folhas, entre os galhos, entre a coxas entreabertas de Amanda. O ar umedecido pelas partículas de saliva expiradas entre suspiros, entre gemidos, entre reclames ardentes de Amanda. Aquele cheiro amadeirado, aquele cheiro de suor, aquele cheiro de orgasmo. Aquela pele estranha, roçando, coçando, irritando, esfolando. Aquela sensação de leveza, aquele gemido seco, aquele apertar das unhas na pele alheia, aquele realizar-se, aquele enfraquecer de pernas e braços deixando-se atirar relaxado.
O sol esquentando a manhã. O calor vaporizando o asfalto do outro lado do parque, nas paredes dos prédios, nos tetos metálicos dos carros estacionados, no suor das pessoas que passam apressadas, sempre apressadas, correndo atrás de sua pressa, cegas, mudas, surdas. Pessoas que não se conhecem, que se olham, mas não se conhecem, que se cruzam, mas não se conhecem, que se tropeçam, mas não se conhecem. Mas se estão todos os dias. Se amontoam todos os dias em trens, ônibus, calçadas, elevadores. Juntamente distantes. Amanda não entende bem aquilo tudo. Quem entende?
Dá-lhe o último beijo, de bom dia e de adeus, recolhe as garrafas de espumante, ajeita o cabelo, suspira lentamente e se põe a caminhar em direção ao seu carro, vaporizando sob o sol três quadras além daquela praça, daquela arvore, daquela grama, daquele ser que conhecera na noite anterior num esbarrão e que entregou seu sexo, seus desejos e agora dá adeus, sem nem olhar pra trás, sem nem lhe perguntar o nome, sem nem lhe incluir na sua vida, quanto mais, numa lembrança. Assim como fazem todos todos os dias, pelas calçadas, pelos ônibus, pelos trens, pelos elevadores.
Afinal, como é que se conhece, de fato, alguém?

A fumaça branca está dissipada pela sala. Seus olhos mal se mantêm abertos. Já basta. Ponto final.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011