domingo, 29 de abril de 2012

Criatividade

A criatividade deveria ser algo relacionada diretamente a Darwin. Na competição pelo longínquo, sobrevive aquele que desponta como o mais forte e que desenvolve organismos para a proliferação da espécie. Uma musica que passa como sucesso por uma temporada e tende a ser lembrada com o franzir da testa na próxima, não deve ser chamada de criativa. Assim como uma peça de teatro, uma roupa, um souvenir. A pretensão da criatividade deve ser adquirida por quem não busca o resultado óbvio de sua cria. A criatividade deve ser algo lançado ao esmo, ao ar, ao vento para que esta possa desenvolver-se em liberdade e aninhar-se nos conceitos daqueles que a sabem receber sem rótulos, sem expectativas. Como uma paixão que se desenvolve a partir de uma novidade e que não espera ser nada além do que paixão. Como um olhar deflagrado sem maiores angustias, como um sorriso desprendido pelo espontâneo. Por que respostas para o abstrato, são devaneios sobre o lúdico. Criatividade é peça de colecionador. Esperar um telefonema, um telegrama, um post é atitude demasiadamente supérflua. O telefonema, o telegrama, o post só fazem sentido se chegam sem esperar. Eis a grande sacada das coisas que não se explicam. Não serem previsíveis. A música ou o teatro que nascem do momento histórico contemporâneo são tão evidentes quanto um aperto de mãos num jantar formal. Mesmo que as mãos estejam sob as mesas. É preciso desgrenhar-se do inevitável para que este possa ser crédulo, verdadeiro. É preciso respirar por vez a cada narina, sentir a cada toque, perceber o imperceptível a cada oportunidade e desmentir-se a cada resenha. O grande mal da sociedade contemporânea é que nos habituamos ao óbvio e fazemos dele uma necessidade. As agencias de jornalismo e publicidade são as grandes precursoras neste âmbito. Se o grande "barato" são as telenovelas e seus dramas, eis uma reportagem ou um anuncio com tais. E que criativos!, exclama a glamourosa classe C da inteligencia recente. Criativo é aquilo que nos atinge como um soco no estomago e que sorrimos como se recebêssemos um beijo suave, um cafuné. A busca da arte criativa passa pelo aval de ser eternamente a busca pelo utópico, pelo horizonte, pelo equilibrar momentâneo da necessidade de continuidade pacifica. E que isto fique sublimemente claro. Mesmo este texto é fadado ao ostracismo sem criatividade, pois retrata um autor nulo e vazio. O autor contemporâneo de 2012. Que Darwin o relacione como espécie fadada a extinção.

domingo, 8 de abril de 2012

Despreocupadamente

Uma janela aberta mostra apenas o que o passado decorou. Não, não é mais um texto melancólico sobre saudades e outros desesperos. É simplesmente a constatação despreocupada de que aquilo que reconheço quando olho pela janela, é o resultado de toda construção de conhecimento a que o passado me pôs a prova. Somente, alias, sei que a janela é janela, por que outrora fomos apresentados um ao outro formalmente. Eis uma janela! O mesmo acontece com o pombo que repousa confortavelmente no parapeito do edifício comercial a frente. Ou na sacada do prédio residencial ao fundo onde uma Wicca sai sorrateiramente para mortalizar seu vício de nicotina. Eis um cigarro! Então há sempre passado a frente. Para ser futuro é preciso que haja desconhecimento, portanto, não há futuro. Não posso reconhecer aquilo que não conheço. Eis o futuro... Onde? Na janela? Passado! No pombo? Passado! Mais cigarro(sim,passado). Minha própria descrição de futuro trata-se de passado. Agora, por exemplo, posso escolher destrinchar este texto para uma Martha Medeiros, retratando o futuro como desejo, horizonte, o que valoriza sua busca confiante a cada dia. Ou para Mauro Menine, reconhecendo no futuro uma utopia e na utopia um motivo para o desespero das mentes pensantes vagando sem rumo no universo das decepções mundanas. Não sei. Afinal, o que me motiva mesmo é o passado, esta janela, o pombo, o cigarro. O futuro vai ficando para cada letra que surge, pois, previstas no meu passado, atiram-se na tela como novidade, para espanto dos meus olhos melancólicos...