domingo, 8 de abril de 2012

Despreocupadamente

Uma janela aberta mostra apenas o que o passado decorou. Não, não é mais um texto melancólico sobre saudades e outros desesperos. É simplesmente a constatação despreocupada de que aquilo que reconheço quando olho pela janela, é o resultado de toda construção de conhecimento a que o passado me pôs a prova. Somente, alias, sei que a janela é janela, por que outrora fomos apresentados um ao outro formalmente. Eis uma janela! O mesmo acontece com o pombo que repousa confortavelmente no parapeito do edifício comercial a frente. Ou na sacada do prédio residencial ao fundo onde uma Wicca sai sorrateiramente para mortalizar seu vício de nicotina. Eis um cigarro! Então há sempre passado a frente. Para ser futuro é preciso que haja desconhecimento, portanto, não há futuro. Não posso reconhecer aquilo que não conheço. Eis o futuro... Onde? Na janela? Passado! No pombo? Passado! Mais cigarro(sim,passado). Minha própria descrição de futuro trata-se de passado. Agora, por exemplo, posso escolher destrinchar este texto para uma Martha Medeiros, retratando o futuro como desejo, horizonte, o que valoriza sua busca confiante a cada dia. Ou para Mauro Menine, reconhecendo no futuro uma utopia e na utopia um motivo para o desespero das mentes pensantes vagando sem rumo no universo das decepções mundanas. Não sei. Afinal, o que me motiva mesmo é o passado, esta janela, o pombo, o cigarro. O futuro vai ficando para cada letra que surge, pois, previstas no meu passado, atiram-se na tela como novidade, para espanto dos meus olhos melancólicos...

Nenhum comentário:

Postar um comentário