segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Hirshimann

Hirshimann caminha ansioso no corrimão que divide o fosso da escada. Braços abertos abraçando o vazio, olhos fixos no próximo passo, respiração continua, joelhos equilibrados sob o corpo. O ar gelado do corredor ressalta o piso frio da escadaria. A frente nada, breu. Um caminho a ser trilhado, como numa forma onde a massa não tem para onde escorrer se não para onde a forma o conduz, num certo destino traçado, desenhado, formula comum sobre os mesmos lugares. Enformar-se, enforcar-se para ser mais um, um outro, mais, apenas, outro. Passo após passo.
Ao fundo, do lado direito, o fosso. Lá no fundo, longe, andares abaixo, uma luz amarela resplandecente, semáforo, sol desprendido da atmosfera quente dos olhos dela. Ela. Desequilibra-se e quase despenca. É na verdade o que esperava. Despencar. É por suma sua vontade ao equilibra-se de forma sócio-circense. Despencar, deixar-se sair, sentir o vento acariciando seus cabelos, umedecendo os olhos, o ar faltando no peito, as palmas das mãos estendidas procurando planar como os sonhos que lhe sobrevoam os pensamentos dia após dia, noite após noite, letra após letra, linha após linha. Atirar-se. Morrer para a vida, viver para a morte. Transe, numa transa. Passo para a passagem. Horizonte para o além. Deixar sentir o gosto estranho que acostuma. Ir, partir, seguir, sumir. Sempre.
Continuamente absorto deste que caminha equilibrando-se quando tudo o que necessita é desequilibrar-se...

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

madrugada

de madrugada fico observando a mim mesmo pela janela e, pode acreditar, é sobre você que estou escrevendo. sempre é. algumas coisas definen-se pela sua exatidão, porque mesmo a exatidão requer parametros e não há parametros primais. o resultado da soma é o objetivo da escolha. a lua brilha embassada. lembra aquele versinho escrito em papel de pão? ainda vale. ainda é inédito...
de madrugada fico dedilhando coisas que depois apago. como um naufrago arremessando garrafas poeticas ao mar e deixando a maré desaparecer com elas. como uma pétala de sal. talvez por que existe, sim, um medo de se encontrar... te encontrar...
de madrugada morro e renasço. escrevo e apago, mas nunca minto. por que é de madrugada que meu fantasma favorito vem acompanhar-me no sofá de veludo vermelho. e é sempre sobre vc que estou escrevendo...

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Educador

reassentando a órbita.



ouvindo atentamente aquele zumbido agudo no fundo do ouvido.





mil planos



mil sonhos



anos e mais anos



idade



cidade




Felicidade?




pensando




penando




sonhando





um passo de cada vez





mas agora sentado






reassentando a órbita...