quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

no fosso do hotel

observando a noite sobre o fosso escuro dos fundos do hotel ele bebe, á meia luz do salão vazio, o que lhe resta de sobriedade. tal qual a fumaça do cigarro, seus pensamentos se dissipam pelo ar. mas, embora á mercê do vento madrigal, sua mente estagna num único assunto: arte. e por ânsiar a arte em presente continuo, sofre o futuro.
o punho cerrado segura o queixo e estrangula a caneta que, pressionada pelo polegar, aponta sua ponta e contrai sua ponta numa escrita mediunica. o papel nao está pronto para ser escrito. a caneta não sabe o que escrever. a concentração concentra-se no papel ainda branco. o masturbar continuo do polegar sobre a caneta, e sua ponta que entra e sai, inundam o ambiente num estalo repetitivo, um relogio, o tempo: tec-tic, tec-tic, tec-tic, tec-tic.
um cigarro apos o outro.
a chama do isqueiro cria sombras. medo. medo de si, do outro, do amanhã, do tempo, das escolhas.
- mas é inevitavel a escolha - escuta ele de uma voz vinda de dentro de si, ou da garrafa semivazia.
arte. dinheiro. tempo.
para o tempo eterno, arte.
para o tempo presente, dinheiro.
para o dinheiro presente...
se para cada segundo 1 real, quanto vale a arte?
se quando acabam os reais, quanto tempo sem arte?
outro cigarro. outra garrafa. outro menos dinheiro.
na manhã, mais dinheiro.
amanhã menos arte.
quanto tempo ainda?
no salão vazio mais sombras.
e a noite segue, no fosso, vagarosa, sem pressa...

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

cena

ele esgueirou-se sob o corrimão da escada pendendo seu corpo sobre o fosso indo observar, com os olhos puxados em força, o fundo escuro daqueles 13 andares. soltou um cuspe que lhe agarrou por um fio de saliva aos lábios e desprendeu-se, atirando-se para de encontro com o chão frio do andar térreo 15 segundos depois. ele fez força na mão esquerda que o segurava e voltou seu corpo para dentro do corredor. sentou-se, agora, com as pernas soltas no fosso, atravessando seus braços por sobre o corrimão e cantarolando uma musica infantil indecifrável, como faria uma velha ama que cansou da vida de cuidados aos mais frágeis, enganando o tempo para deixar-se morrer de vencimento. ficou ali por alguns segundos, perdido num olhar fixo para a parede branca suja de breu. inspirou fundo, levantou-se lentamente, bateu a mão direita sobre o corrimão espiando mais uma vez o fosso escuro e pôs-se a caminhar vagarosamente, como quem já esta satisfeito com o que tem e não busca mais nada com pressa, ou como alguém que não sabe para onde caminhar, por isso, valsa. os olhos penetrados ao chão, observando os pés que levantam-se 30 cm para dar o próximo passo. começa a ouvir murmurinhos. a sua frente uma porta fechada contornada de claridade externa. observando-a pensa em exitar. não quer continuar. por que não, pela primeira, desligar tudo do todo que compõe sua história e buscar um folha em branco? Como de costume, exita exitar. segue nos seus passos nervosos. abre lentamente a porta. ela abre-se para o palco do teatro com a cortina vermelho veludo ainda fechada. inspira fundo, retoca com um toque leve dos dedos sua maquiagem facial branca de contornos labiais vermelhos e segue para a cena...

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

ode (io) totonho lisboa

habitar a arte (cênica) pela efetivação única da cifra,
desgasta a alma e atordoa o ato.
o corpo formiga numa hemorragia estafante
denunciando o desgaste da vista
sobre o presente momento.
o ânimo desanima,
o sorriso amarela,
o sebo contamina o gesto trivial.
a pobre lacuna cultural
é preenchida com o escarnio
do mais ambicioso.
arte?
enrolada em papel de pão!
assim,
o falso ator viaja
de um lado a outro
esquecendo de sua história
e representando sua agonizante realidade abstrata...

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

o futuro da nação

este empurra empurra egocêntrico.
este joguinho playmobil.

eles já sabem o que querem.
encontrontram-se pra definirem-se, apenas.

nunca é, na verdade, uma reunião.
e nunca termina em bom tom.

dedo médio em riste, ereto, afirmativo!
e lá se vai mais uma resolução...