Dirige-se do quarto em direção a cozinha. Seu semblante é carregado de angústia. A pouca luz que atravessa o corredor lhe sombreia a face e desenha uma estranha figura agonizante. A mão estalada cobre-lhe o meio do corpo. Dor. Seus pés, avulsos, entrepassam cada passo, quase derrubando-lhe. Cega os olhos ao chegar na cozinha. Produz sombra para as vistas com a mão esquerda erguida. Rufa oxigênio e procura a pia. Dor. Atira-se sobre ela segurando-se avidamente ao inox para não despencar como um saco vazio. Inspira oxigênio com dificuldade. Dor. Apoiando-se bravamente com a mão esquerda, deixa a mão direita apalpar a primeira gaveta e nela, como um peixe que fisga mortalmente o anzol, agarra o puxador e concentra-se para puxa-lo. Abre-a com rispidez, fazendo cada talher atirar-se da inércia noturna dos talheres numa gaveta. Perde a força nos joelhos e quase encontra-se com o chão. Dor. Superando-se, enrijece a palma da mão esquerda e põe-se mais uma vez de pé. Vasculha a gaveta atirando os talheres de um lado ao outro como um cão abocanhando um pedaço de carne. Sente o cabo de madeira e agarra-o com convicção. Seus olhos se erguem fitando a parede de azulejos brancos. Sabe o que fazer. Dor. Retira lentamente a faca da gaveta levando-a à frente dos olhos onde enxerga seu semblante gordo refletido no metal. Seus olhos verdes profundos, como um oceano. Analisa-os cuidadosamente. Corre o olhar decidido sobre a faca. Com força formigante na palma dos pés, leva a mão esquerda sobre a barriga. Dor. Sabe o que fazer. Comerá um sanduíche. Mesmo que a dieta proíba carboidratos a noite...
segunda-feira, 26 de setembro de 2011
Assinar:
Postar comentários (Atom)
RSRSRS... Carboidratos! Que sacrificio...
ResponderExcluirXx