O telefonema
De tanto que precisou, acabou por ligar pra ela:- Acho que tive uma ideia!
A idéia
Desde a fatídica discussão, não fez outra coisa senão procurar uma ideia dentro de si. Procurava uma ideia que atendesse aos seus princípios pessoais de bossa. Afinal, acabara de completar os 30 anos de idade. Não exitaria usufruir de uma certa independência boemia. E isso era preciso ser levado em consideração como um dos itens mais importantes de um relacionamento. Junto com a pornografia e o romantismo. O mais importante é que se convencera plenamente da ideia. Enquanto digitava o numero dela no telefone, correu mentalmente uma provável rotina de imprevistos. Era tão boa a ideia, tão boa, que poderia acalentar-se no calor de braços que esperam ao findar do dia, tanto quanto poderia embriagar-se nos abraços de quem espera o surgir da noite. E ela teria o que sempre quis: liberdade financeira e profissional aliados a sua necessidade emocional de ser mulher. Sabia que ela aceitaria. Recuperaria a confiança dela. Poderiam, enfim, ficar juntos.
O destino
Desligou o telefone e ofegante apressou-se para encontra-la. No reflexo de uma vitrine arrumou o cabelo, na janela de um Chevette branco parado na sinaleira alisou a camisa estendendo-a sobre o tórax, na frente de uma floricultura pigarreou como quem prepara a fala e parou. Flores. Gerberas. Entrou, escolheu duas vermelhas e uma amarela. Pediu que embrulhassem em papel elegante, agradeceu e pagou. Quando saiu, desnorteado pela pressa e pelas flores, torceu o pé no degrau. Saiu cambaleando pela calçada procurando um corrimão no ar até invadir a rua e ser atropelado pelo Chevette branco. As gerberas lançaram-se ao ar e caíram sobre o corpo desfalecido. Uma poça de sangue vermelho abriu-se sob sua cabeça como uma aureola mortal.
O fim
Ela tatuou duas gerberas vermelhas e uma amarela no lado interno do pulso esquerdo, casou e teve dois filhos com um jogador de futebol.
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