observando a noite sobre o fosso escuro dos fundos do hotel ele bebe, á meia luz do salão vazio, o que lhe resta de sobriedade. tal qual a fumaça do cigarro, seus pensamentos se dissipam pelo ar. mas, embora á mercê do vento madrigal, sua mente estagna num único assunto: arte. e por ânsiar a arte em presente continuo, sofre o futuro.
o punho cerrado segura o queixo e estrangula a caneta que, pressionada pelo polegar, aponta sua ponta e contrai sua ponta numa escrita mediunica. o papel nao está pronto para ser escrito. a caneta não sabe o que escrever. a concentração concentra-se no papel ainda branco. o masturbar continuo do polegar sobre a caneta, e sua ponta que entra e sai, inundam o ambiente num estalo repetitivo, um relogio, o tempo: tec-tic, tec-tic, tec-tic, tec-tic.
um cigarro apos o outro.
a chama do isqueiro cria sombras. medo. medo de si, do outro, do amanhã, do tempo, das escolhas.
- mas é inevitavel a escolha - escuta ele de uma voz vinda de dentro de si, ou da garrafa semivazia.
arte. dinheiro. tempo.
para o tempo eterno, arte.
para o tempo presente, dinheiro.
para o dinheiro presente...
se para cada segundo 1 real, quanto vale a arte?
se quando acabam os reais, quanto tempo sem arte?
outro cigarro. outra garrafa. outro menos dinheiro.
na manhã, mais dinheiro.
amanhã menos arte.
quanto tempo ainda?
no salão vazio mais sombras.
e a noite segue, no fosso, vagarosa, sem pressa...
quarta-feira, 22 de dezembro de 2010
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