terça-feira, 11 de maio de 2010

A Santa Anunciação

Ele resolveu que faria a Santa Anunciação.
Todos ansiavam há muito por aquele momento. Ele, que era considerado um Homem Santo, anunciaria naquele dia quem o acompanharia na ascensão aos céus do mundo. Quem, ao seu lado, teria a oportunidade de tornar-se consagrado pelo mundo e traria a felicidade e a paz para uma nação inteira. Há tempos vinha revelando em provérbios, mensagens e atitudes santas (as vezes insânas), dicas de sabedoria, sempre procurando quem estaria consigo. Muitos o seguiram na tentativa de se tornarem um de seus escolhidos e segurarem em sua mão. Mas ninguém podia ter certeza de quem poderia ser um escolhido. Somente Ele, Homem Santo, é que teria a sabedoria celestial para escolher. Mandou espalhar que esperaria pelos anunciados em uma Ceia, uma Ceia de Informação, em local iluminado, aos olhares de todos aqueles que crêem em sua palavra.
No dia e no local prometido, lá estava a mesa, omnipotente, sólida, gélida, rodeada de treze cadeiras e com um cálice e uma lista (que alimenta tal qual pão para quem cedo madruga) ao centro. Pouco a pouco chegavam os que acreditavam e queriam presenciar este momento divino. Vinham de todos os lugares do mundo, falavam todas as línguas, mas idolatravam com a mesma intensidade. Acomodavam-se sentados, de joelhos juntos, na espera do grande momento. Cochichavam entre si na busca por alguma palavra ou atitude santa que pudesse dar alguma pista sobre a anunciação. Quais seriam os nomes á serem anunciados? Cada minuto que passava, eram horas que se abatiam em aflição sobre todos aqueles que já lotavam o local iluminado.
De repente, a luz que já era branca ofusca-se num clarão e cega momentâneamente a todos. Surge Ele, soberano, empunhando em seu semblante o poder de sua anunciação, caminhando em passos certos e decisivos ao centro da mesa. Um silêncio de oração recai sobre o recinto. Ninguém sequer respira, atônitos com aquela imagem divina. Ele pára ante sua cadeira central, puxa-a contra si e ajeita-se harmoniosamente sobre ela. Estende os braços sobre a mesa e fita aquele mar de bocas mudas e olhares estatelados. Levanta a mão direita como que sobre suas cabeças e diz:
- Ninguém chegará a ascensão dos céus do mundo senão por mim!
Um sonoro engolir á seco irrompe o silêncio.
Ele sugere que chamará um a um dos anunciados para que, aos poucos, vão ocupando os lugares ao redor da mesa. Avisa, ainda, que todos eles foram escolhidos á dedo, levando em consideração sua perseverança na busca da felicidade e paz dos homens de boa vontade. Cada um dos escolhidos gravaria seu nome na história de um povo. E lançou ao ouvido daqueles que o escutavam o nome dos escolhidos, que chegavam á mesa, beijavam-lhe a mão e se acomodavam em um assento livre. Todos ali o ouviram com uma atenção estática. O que se via eram expressões de contentamento, negação e surpresa.
Ao final de trinta minutos, no final da lista, a mesa era composta da seguinte forma:
Ele ao centro, com os braços abertos sobre a mesa relendo a lista para ter certeza de que não esquecera ninguém; á sua direita Jorginho ouve um cochicho de Robinho que diz que ele deveria ter chamado Neimar ou Ganso, enquanto Lúcio observa atentamente o semblante do Mestre. Josué, Elano e Julio César apontam para a possível posição de todos dentro do campo. Á sua esquerda, Luiz Fabiano pede uma chance de titular já no primeiro jogo enquanto Grafite pede calma e espaço para que o Mestre possa pensar. Thiago Silva gaba-se ao léu por ter sido ídolo no Fluminense e que se revelara jogando no futebol gaúcho. Kaká, Juan e Luizão interrogam-se o por que de Ele não ter chamado Victor.
Então, Dunga, no centro da mesa, solenemente levanta a lista aos céus, ergue o cálice de água, bebe num gole e anuncia:
- Concentrai e jogai! Esta é a força e a esperança de um povo!

Uma rajada de palmas foi urrada pela plateia de jornalistas. Na mesa, todos deram as mãos e gritaram bravamente, prontos para a pregação maior. Depois saíram perfilados e confiantes. No público suspiros, surpresas e confianças desconfiadas.
A História da nação, novamente, está em jogo. Literalmente.

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